O tema é incontornável. A Grécia está com uma dívida pública da ordem dos 160% do PIB, mais de €350 mil milhões, com tendência a subir. A Grécia enfrenta uma recessão económica gravíssima, com o PIB a cair 4,5% do PIB em 2010 e talvez outro tanto em 2011. E a Grécia pertence ao Grupo dos 27 da União Europeia, com entrada no Grupo mais restrito dos 17 da Zona euro. Uma tragédia. Como pensa a Europa do euro resolver o problema da Grécia?
A primeira hipótese é prosseguir com o modelo tradicional. Os parceiros fingem que estão muito preocupados e vão concedendo uns empréstimos para financiar outros empréstimos, na expectativa de que surja uma bênção do Céu. Sucede que, às dívidas assim diferidas, juntam-se os défices anuais. E aqui entram as agências de ‘rating': como não acreditam em milagres, vingam-se em taxas de extorsão. E pronto. Daqui ao ‘default' é um saltinho.
A segunda hipótese é evitar os paninhos quentes e ir directos ao assunto: se a Grécia tem dívidas que não consegue pagar, então que assuma a insolvência. Já outros o fizeram antes dela e o mundo não acabou. Mas há o diabo dos mercados. Ao que parece, o contágio seria imediato: Portugal, Irlanda, Espanha, Itália... E o fantasma do Lehman Brothers aparece no horizonte. É o modelo argentino? É o fim do euro? É uma recessão à escala mundial?
Existe ainda uma terceira via, suportada por dois pilares. Primeiro: a dívida sofre um ‘haircut' significativo; os prazos são generosamente aumentados; e as taxas de juro terão como limite a taxa de crescimento do PIB. Segundo: a dívida só irá para o mercado quando titulada por ‘eurobonds'. Claro que compreendo o desencanto dos investidores. Mas a alternativa é pior: a Grécia não paga nada, assume a falência e leva meio mundo atrás.
É aqui que entra o caso português. É óbvio que o acordo com a ‘troika' tem de ser respeitado e ninguém está seguro de que venha a sê-lo. Também é óbvio que a aplicação das medidas vai ser muito dolorosa, podendo levar à fúria descontrolada de muita gente. Mas o que dói mesmo é que podemos cumprir tudo, respeitar tudo, ir mesmo além de tudo o que nos foi exigido - e esse tudo não chegar. O colapso da Grécia pode ser o colapso português.
PS - No último artigo, por lapso, chamei "Balanço" ao documento que compara Custos com Proveitos. O nome correcto é "Demonstração de Resultados". As minhas desculpas.
OS INTERVENCIONADOS
Afundam os défices... | ...disparam as dívidas |
Saldo orçamental, % PIB | Dívida pública, % PIB |
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*Previsões. De acordo com projecções recentes, o défice e a dívida portugueses são inferiores aos equivalentes da Grécia e da Irlanda. Mas, ainda assim, a nossa dívida é da ordem dos 100% do PIB, o que sigifica "elevada vulnerabilidade ao risco de ‘default'" - o tal lixo. Mas o ‘timing' é estranho. Se a Moody's não o fez antes, porquê agora que temos um Governo novo, estável e predisposto a fazer tudo o que a ‘troika' nos exigir? Fonte: ‘Troika', Eurostat. |
Daniel Amaral, Economista
Comentários:
César Palmieri Martins Barbosa , Rio de Janeiro | 17/07/11 02:55
Prezado Jorge - Matosinhos , | 16/07/11 23:23 - Portugal visto do Brasil continua o mesmo dos anos 90 que tão bem descreveste. Trabalho e credibilidade são a marca do carater português. A atual crise mundial, que não é apenas do euro, e muito menos de Portugal, e da qual nenhum de nós pode escapar por seu livre arbítrio, não deve abalar o orgulho e a auto-estima o povo português, como está a acontecer. Força, coragem e calma, que a superação do momento difícil não tardará tanto como agora nos parece. Felicidades.
E agora pá? , | 15/07/11 14:12
Para tentar resolver um problema tem que se conhecer as suas causas.
1º) A integração económica portuguesa destruiu, por várias formas, a economia produtiva do país, trocando-a por betão, alcatrão e dívidas;
2º) Os portugueses desempregados das actividades produtivas e os que iam chegando de novo ao mercado de trabalho ou emigravam ou, na falta de actividades produtivassuficientes, iam, progressivamente, albergando-se, de forma directa ou indirecta. no orçamento de Estado. mais funcionalismo público e para-público, subsídios indiscriminados, reformas antecipadas, obras públicas e compras públicas de bens e serviços supérfluos mas que iam animando a economia, etc. Tudo financiado com mais impostos e com crescente recurso ao crédito externo. Foi por desempenhar esse papel de almofada social da desactivação da economia produtiva que o Estado engordou (deixem por favor de acusar o sr A ou o sr. B),
3º) A Banca, aproveitando o crédito barato pós-euro, desatou a financiar o imobiliário ( que albergou temporáriamente muitos activos portugueses e imigrantes) e as importações daquilo que deixámos de produzir e daquilo que passámos a importar para consumir;
4º) Epílogo inevitável: ficámos endividados, sem crédito e sem economia.
E agora pá? Realista , Porto | 15/07/11 11:31
Para <Rita Paes>,
Minha Senhora, vamos lá a ver. As senhoras por vezes baseiam-se mais em feelings do que em factos. Mas os factos são factos, não se podem sacudir.
A dívida pública portuguesa é de 93% (é o que consta no Eurostat, mas o MF ontem indicou 91%) do PIB.
A da Grecia é de 142%. Culpa do Socrates? A da Irlanda é de 96%. Culpa do Sócrates?. A da Italia é de 119%. Culpa do Sócrates? A da Belgica é de 97%. Culpa do Sócrates? A dos EUA é de 98%. Culpa do Sócrates? A da propriac Alemanha é de 83%. Tambem culpa do Sócrates? DESÇA À TERRA, POR FAVOR.
P.S. No meu primeiro comentario escrevi "bail-out" da Grecia quando queria dizer "Default". I'm sorry!
Factos: Sócrates endividou o país num valor igual aos anteriores 30 anos de democracia. Se a culpa não é dele é de quem? Do Pai-Natal ? É uma pena não haver leis que obrigassem só os socialistas a pagar a crise.