O Eurostat, partindo dos rendimentos das famílias, calcula a
relação entre os 20% mais altos e os 20% mais baixos da UE. Em Portugal, esta
relação é de 5,6, contra 4,9 da zona euro, o que compara com 6,9 em Espanha e
3,5 na Suécia e na Noruega. E, associado aos rendimentos, define o conceito de
limiar da pobreza, que é igual 60% da mediana do rendimento por adulto.
Portugal é um dos países mais pobres e que mais injustamente distribui.
Num outro plano, e com o mesmo objectivo de medir as
desigualdades na distribuição dos rendimentos, a OCDE utiliza o chamado
coeficiente de Gini. Basicamente parte-se de uma hipótese teórica em que todos
os indivíduos tivessem um rendimento igual (0) para uma outra em que todo o
rendimento se concentrasse num só indivíduo (100): a desigualdade é tanto maior
quanto maior for o valor calculado. Os gráficos abaixo quantificam os valores.
A maior desigualdade na distribuição está nos EUA, com um
coeficiente de 38. O que confere com a ideia que todos temos dos americanos: um
grupo restrito de iluminados acumula fortunas colossais. Ainda assim,
tratando-se da economia mais rica do mundo, será sempre possível evitar a
miséria extrema. O Japão, com um coeficiente de 33, tem uma desigualdade
superior à da zona euro, que andará pelo coeficiente 30, próximo do valor
alemão.
É aqui que Portugal destoa. O seu rendimento ‘per capita’ é
dos mais baixos da Europa e, para ajudar à festa, a injustiça na distribuição
dos rendimentos é das mais elevadas. Com um coeficiente de 35, compara com os cerca
de 30 da Alemanha, da França e da Espanha e com os 25 da Noruega. E já foi pior
do que é hoje. Com o país mergulhado numa recessão profunda, e às voltas com
problemas de toda a ordem, este não será o menos importante.
Sendo o bolo tão pequeno, é óbvio que uma partilha injusta
agrava ainda mais a situação dos mais pobres. E os governos têm a obrigação de
ser sensíveis ao problema. Há duas maneiras de o fazer: pela via salarial e
pela via fiscal. Os acréscimos salariais têm de privilegiar os que têm menos. E
o agravamento de impostos tem de penalizar os que têm mais. A forma como
distribuímos o pouco que temos é algo de que deveríamos envergonhar-nos.
Estará este Governo à altura?