O Governo, pela mão de Vítor Gaspar, descobriu a pólvora: o
défice orçamental em 2012, no valor de 4,5% do PIB, afinal não vai ser cumprido.
O desvio será de uns dois mil milhões de euros, imaginem só! Pertenço ao número
daqueles que, logo à partida, afirmaram que o objectivo era inexequível sem o
recurso a mais medidas extraordinárias. Daí o meu espanto pelo facto de só agora
o Governo se espantar. Como é que vamos descalçar a bota?
Um cenário possível é agravar as medidas de austeridade, de
que Passos Coelho tanto gosta. Vamos às receitas e aumentamos ainda mais os
impostos; pegamos nas despesas e aplicamos mais uns cortes nos salários; e, se
tudo isto não chegar, talvez se arranjem por aí mais uns fundos de pensões. Mas
atenção! O sentimento generalizado vai no sentido de que as pessoas estão à
beira de explodir e esta pode ser a gota que faz transbordar o copo.
Outra hipótese possível seria cortar no investimento público.
Fiz umas contas rápidas: durante a última década, o investimento nacional,
público e privado, caiu dez pontos para os 18% do PIB; e o investimento público
ficou reduzido a metade. Usar agora este investimento para salvar o défice
seria o mesmo que eliminá-lo completamente. Enfim, se o objectivo é agravar
ainda mais a recessão, podem ficar descansados: este é o caminho certo.
A estes modelos internos poderemos contrapor uma solução
externa: o Governo reconhece que é incapaz de cumprir as metas propostas e
solicita um diferimento do prazo, com ou sem fundos adicionais. A abertura já
admitida para a Grécia poderia servir de argumento. O problema está naquela
máxima a que o primeiro-ministro se agarrou: não queremos mais tempo nem mais
dinheiro! Com que cara iria ele depois aparecer ao lado da generala alemã?
Como já se percebeu, este problema não tem soluções boas; teremos
de procurar as menos más. Em minha opinião, deveríamos optar pela solução
externa, malgrado os sapos que Passos teria de engolir. Mas estou convencido de
que o Governo vai preferir a austeridade. E, se assim for, proponho que se
estenda ao sector privado aquilo que já hoje se aplica ao sector público e aos
pensionistas. A injustiça social sempre seria um pouco mais justa.
Como é que chegámos aqui?